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FUNDAÇÃO, FUNDADORES E PRIMEIRA DESIGNAÇÃO

O Clube Naval de Lisboa é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos e de Utilidade Publica, fundado em 27 de Fevereiro de 1892 por Abel Power Daggge, Augusto de Paiva Moniz, Carlos French Duff, Duarte Alexandre Holbeche, Frederico José Burnay, José Felix Peixoto Gimenez, Joaquim Honório Metrass, José Maria Batista Lopes de Amorim, Justino M. de Oliveira, Narciso M. de Oliveira, Nestor de Oliveira Sampaio, Pedro Augusto Franco Júnior, Pedro Sanches Navarro, R.N.Oaklay e Xavier de Almeida.

O Clube, que nos estatutos iniciais tinha como missão “cooperação à utilíssima, nobre e filantrópica ideia de criação dum posto de socorros a náufragos e a instrução náutica”, rapidamente assumiu um papel importante no panorama náutico português.

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Abel Power Dagge, um dos percursores do remo e vela em Portugal

O Clube, que nos estatutos iniciais tinha como missão “cooperação à utilíssima, nobre e filantrópica ideia de criação dum posto de socorros a náufragos e a instrução náutica”, rapidamente assumiu um papel importante no panorama náutico português.

A sua génese remonta ao primeiro clube náutico de que há referências em Portugal: o Arrow Club, fundado pela comunidade inglesa em 18 de Agosto de 1828. Este clube dá origem em 1862 ao Clube de Remeiros Lusitano, no mesmo ano em que a comunidade germânica a viver em Portugal funda o Tagus Rowing Club. Estes dois clubes, devido a dificuldades financeiras, fundiram-se em 1873 no Rowing Club de Lisboa.

Em 1890, na sequência de uma regata organizada na Trafaria, Frederico Burnay promove uma comissão com vista a transformar o “Rowing Club de Lisboa” no Club Naval de Lisboa, aglutinando também sócios dissidentes da Real Associação Naval de Lisboa.

O projeto da denominada Comissão Instaladora foi aprovado em Novembro de 1891, numa reunião nas instalações da Parceria dos Vapores Lisbonenses, empresa da família Burnay, no Cais do Sobre, tendo como principio fundador a “cooperação à utilíssima, nobre e filantrópica ideia de criação dum posto de socorros a náufragos… e a instrução náutica”.

A assembleia de aprovação dos Estatutos, data oficial da fundação, ocorreu no mesmo local, em 27 de Fevereiro de 1892.

D. CARLOS E A DESIGNAÇÃO DE REAL CLUB NAVAL DE LISBOA

O CNL, face ao dinamismo dos seus fundadores, rapidamente adquiriu uma grande relevância no panorama náutico português, facto reconhecido desde logo pelas mais altas instâncias do país, a começar pela Família Real, grandes entusiastas e promotores das atividades náuticas, o que levou a um rápido crescimento do Clube.

Em 1893 o Rei D. Carlos I atribui o título de Real ao clube, que passa a denominar-se Real Club Naval de Lisboa e o Príncipe D. Luiz Filipe aceita o título de Comodoro Honorário.

Em 1894 A Rainha mãe D. Maria Pia e o Infante D. Afonso e depois, em 1895, o próprio Rei D. Carlos I e a Rainha D. Amélia aceitam os títulos de sócios protetores.

Em 1897 O Rei D. Carlos I aceita o cargo de Comodoro.

O ENSINO DA VELA E A ORGANIZAÇÃO DE REGATAS

Desde cedo o clube demonstrou grande dinamismo na organização de eventos náuticos e foi pioneiro no ensino do remo e da vela.

A importância do clube no panorama náutico não demorou a ser reconhecida também institucionalmente. Em 1901, por despacho de 22 de Agosto do Ministro da Marinha, foi concedida a regalia do uso de uma bandeira privativa aos iates registados no Clube Naval de Lisboa.

Não só em Lisboa o CNL desenvolveu a sua atividade. Ao longo da sua história, o clube fundou vários postos náuticos e delegações em diversos locais como Cascais, Azambuja, Trafaria, Portimão, Pedrouços e Lagos. Muitas destas estruturas autonomizaram-se ou deram origem a clubes e associações locais.

No campo da organização de regatas, de remo e vela foi de fundamental importância para o crescimento do Clube a abertura da secção de Cascais em 1901. Esta secção foi encerrada no final da década de 30, coincidindo com a fundação do Clube Naval de Cascais. Durante mais de trinta anos o clube organizou anualmente eventos de grande importância para a época.

Aqui D. Carlos I venceu a Taça Vasco da Gama para o clube, na sua última edição em 1907 ao leme do Maris Stella, um palhabote que o Rei tinha adquirido para oferecer à Rainha D. Amélia.

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Taça Vasco da Gama, 1898

Outros factos de registo aconteceram nas regatas de Cascais, nomeadamente em 1894 pela primeira vez em Portugal, quando uma mulher, Dona Eleanor Bucknall, sócia do Clube, tomou parte numa regata governando o seu próprio barco de vela.

Em 1902 é em Cascais que termina a 1ª regata oceânica realizada em Portugal, a Regata Leixões-Cascais, na qual o Lia, palhabote da Rainha, vence com o pavilhão do Real Club Naval de Lisboa.

Também neste ano é introduzida em Portugal a primeira classe de monotipos de vela os bulb-keels. Foram adquiridas três embarcações por sócios do Clube, o Naide de Charles Bleck, o Geisha do Conde Castro Guimarães e o Laura de José Libânio Ribeiro da Silva. A estes veio a juntar-se o Nadejda, adquirido pelo Rei D. Carlos I, com ligeiras diferenças. Era um fine-keel, mas corria em tempo real com os restantes. Estes barcos bastante inovadores e ligeiros para a época permitiam fazer regatas próximo da costa e eram identificadas pelo número de vela (inovador à data) para poderem ser identificados por quem seguia a regata.

O REGICÍDIO, A REPÚBLICA E O FIM DA DESIGNAÇÃO “REAL”

O regicídio de 1908 e a implantação da Republica em 1910 trazem ao clube um período conturbado, muito em função da ligação à casa Real. D. Carlos I era o Comodoro do clube e o seu sucessor, o Rei D. Manuel II, Comodoro Honorário.

Não deixa de ser bem simbólico o facto de quando partiu para o exílio em 1910, a bordo do Yacht Amélia, o pavilhão içado à entrada de Gibraltar foi o distintivo de Comodoro do RCNL.

Legalmente termina a designação de Real e as cores azul e branca das insígnias do Clube, pavilhão e galhardetes tiveram que ser postos de lado e passando a utilizar-se as cores preta e encarnada. Na bandeira e galhardete a coroa real é substituída por uma estrela branca, numa primeira fase e posteriormente por uma âncora com o escudo da República.

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Flâmula do Real Clube Naval de Lisboa (em cima) e a sua evolução ao longo da História até à actual (em baixo)

CRESCIMENTO DE OUTRAS MODALIDADES

Por estes anos, assiste-se a uma estagnação das modalidades de remo e vela e ao crescimento de outras modalidades. O CNL teve de acompanhar este movimento com ousadia, pois havia que acompanhar «a moda» e teve incursões por outras modalidades como a motonáutica, a natação, ténis, esgrima, ginástica artística, hipismo, a halterofilia, a luta greco-romana.

Na promoção de novas modalidades, em 1914, é instituída a Taça Herédia para barcos a motor. Neste ano Alberto Lavandeira sagra-se Campeão do Mundo de Motonáutica, em representação do Clube Naval de Lisboa, numa prova organizada pelo Sporting Club de Monte Carlo. Poderá ser o primeiro título Mundial do desporto Português.

Também em 1914, o Clube Naval de Lisboa introduz o Pólo-aquático em Portugal e na natação institui diversos trofeus:

- Taça Silva Carvalho para prémio da travessia do Tejo em equipas de seis nadadores;

- Taça Camões em Natação para provas de 500m por equipas de 5 nadadores (5x500);

- Taça Henrique Maufray de Seixas em provas de 100m por equipas de 5 nadadores (5x100).

A estes trofeus acrescem em 1918 a Taça Páscoa para provas de natação de 200m por equipas e a Taça Carlos Moura para a modalidade Pólo-aquático.

Outros clubes também germinaram a partir do CNL e não só nas modalidades principais do clube, o remo e a vela. A partir da secção de natação, em 1919 um grupo de sócios dissidentes promoveu a constituição de um novo clube, o Clube Nacional de Natação.

 

De salientar ainda um facto significativo que, a par da imagem ainda associada à família real, justifica o abrandamento das atividades náuticas foi a I Guerra Mundial.

 

Face à exiguidade de meios navais portugueses, para defesa marítima dos portos foi criada uma força de pessoal auxiliar, com estatuto militarizado, que integrava os sócios dos clubes náuticos, que tivessem pelo menos a carta de timoneiro e as embarcações a motor que fossem adequadas.

Para efeitos disciplinares e remuneratórias foram estabelecidas as seguintes graduações militares por equivalência:

- Guarda Marinha (Sócios de clubes náuticos com carta de patrão)

- Aspirante de Marinha (Sócios de clubes náuticos com carta de timoneiro)

Ministério da Marinha, Decreto nº 2375/1916. Cria uma Secção de Auxiliares de Defesa Marítima, Diário do Governo 1ª Série, nº 88, 8 de Maio de 1916, pp. 407-408.

Ministério da Marinha, Decreto nº 2876/1916. Reorganiza os serviços da secção de auxiliares de defesa marítima, Diário do Governo 1ª Série, nº 243, 30 de Novembro de 1916, pp. 1109-1110.

O REGRESSO DO REMO E DA VELA

A partir dos anos vinte, regista-se alguma estabilização e o clube volta a recentrar a sua atividade nas modalidades tradicionais, o remo e a vela, destacando--se:

1922 - O Clube Naval de Lisboa adquire o primeiro barco Shell 8 existente em Portugal.

1924 - Nos jogos Olímpicos realizados em Paris, Portugal foi representado pela primeira vez na modalidade de vela por Frederico Burnay, que participou na classe Monotipo 12ft. Obteve um honroso 8.º lugar (hoje equivaleria a Diploma Olímpico) entre 17 participantes.

Medalha jogos Olímpicos realizados em Paris, 1924

1925 - O Clube Naval de Lisboa representa Portugal no Campeonato da Europa de Remo.

1928 - Frederico Burnay volta a participar nos Jogos Olímpicos, em Amsterdão, na Classe 6mt Internacional, liderando a equipa Portuguesa, composta por uma seleção de velejadores que integrava, Charles Bleck, António Herédia, Ernesto Mendonça e João Penha Lopes. De referir que as medalhas de participação no Jogos Olímpicos e cartões de identificação foram oferecidas pelo próprio Frederico Burnay ao Clube.

1930 - António Herédia, sócio do Clube, acompanhado de Ernesto Mendonça, vencem as regatas internacionais de Bordéus, na classe Star, com um barco registado no Clube.

O final dos anos 20 e início da década de 30 é marcado por uma nova fase de reconhecimento institucional do clube e pela continuidade do trabalho desenvolvido com o ensino e promoção das modalidades de remo e vela.

Institucionalmente destaca-se:

1928 - O Clube recebe a Medalha de Louvor da Cruz Vermelha.

1931 - O Clube Naval de Lisboa foi agraciado com o Grau de Comendador da Ordem de Cristo, pelo Presidente da República.

1931 - Sua Majestade Jorge V de Inglaterra e o Presidente da República Francesa aceitam os cargos de Comodoros Honorários.

1932 - Por decreto de 9 de Janeiro, o Clube Naval de Lisboa é reconhecido como «instituição de utilidade pública».

 

1932 - Getúlio Vargas, Presidente do Brasil e Jorge VI, Rei de Inglaterra, aceitam o cargo de Comodoro Honorário.

MUDANÇA DE INSTALAÇÕES

Em termos desportivos, apesar da manutenção da atividade regular, assiste-se ao longo da década de 1930 a vários factos com impacto no futuro do clube.

Desde logo, em 1931 o clube volta a ser forçado a mudar de instalações, desta feira para o Cais do Gás, onde permanece e onde construiu a primeira piscina de Lisboa para ensino da natação.

Continua a promover as tradicionais regatas de Cascais até 1938, ano em que encerra a sua secção local, após realização das Festas Náuticas de Cascais realizadas para comemorar a inauguração da Casa dos Pescadores daquela vila.

 

Chegava assim ao fim um ciclo de quase 30 anos de presença do Clube naquela vila. Apenas dois anos antes, em 1936, de 23 a 30 de Agosto, o CNL tinha promovido a I Semana Náutica Internacional de Cascais, com provas de remo, vela e natação que haviam sido um enorme sucesso, com a presença de atletas de França, Bélgica e Inglaterra.

Em 1937 as mudanças sociais em curso em Portugal e a II Guerra Mundial na Europa não permitiram repetir o sucesso. O Clube procurou repetir o êxito com realização a II Semana Internacional. No entanto questões institucionais não permitiram reunir as condições necessárias.

A crescente influência das novas instituições estatais, como a Legião e a Mocidade Portuguesa, com quem o Clube não mantinha as melhores relações e por quem não era bem visto, possivelmente em face da sua independência, terá tido um contributo importante.

De salientar que em 1937, ao invés de uma grande prova internacional como o Clube tinha programado, foi realizada uma Regata Internacional entre a Mocidade Portuguesa e a sua congénere Alemã.

Com grande empenho e determinação, o Clube manteve a sua atividade fiel aos seus princípios fundadores, prosseguindo os seus fins. As décadas de 1940, 1950 e 60 são caracterizadas por uma aposta forte do clube na formação. Anualmente as escolas de formação de remo e vela estavam lotadas. Pode-se dizer que o CNL, muito antes do tempo, democratizou o acesso da vela e do remo à população em geral.

Simbólico também foi a abertura em 1944 da primeira “escola de Treinadores de Remo em Portugal” procurando aprofundar os conhecimentos técnicos de que se dedicava ao ensino da modalidade.

O clube continua a organizar vários eventos e competições e a formar nautas. Nestes anos destacam-se essencialmente o desenvolvimento da frota de Snipes e de Sharpies 12. Em 1959 os irmãos Soares de Oliveira, representam o Clube Naval de Lisboa e Portugal no Campeonato do Mundo da classe Snipe.

Em 1954 após processo de avaliação do historial do clube, através da embaixada de Inglaterra em Portugal, Sua Majestade Britânica a Rainha Isabel II distinguiu o Clube Naval de Lisboa, aceitando o cargo de Comodoro Honorário. Uma enorme honra, conhecendo-se as tradições britânicas nesta área.

A CRISE DOS ANOS 1960 E O NOVO FULGOR DA DÉCADA DE 1970

O início da década de 60 traz uma nova fase de grandes dificuldades e de crise no Clube Naval de Lisboa, em que é mesmo posta em causa existência e continuidade.

No Relatório Bienal da Direção de 1964 vem expresso que o crescimento do Clube estagnou. Para o facto muito terá contribuído, no dizer de um sócio na assembleia que aprova o relatório, “O apoio financeiro e Oficial do Estado a outras entidades, como a Brigada Naval e a Secção Náutica da Mocidade Portuguesa, em detrimento de instituições de grande Historial e que tanto têm dado à vida social e desportiva portuguesa e com as quais se poderia e deveria contar para o engrandecimento do Desporto Náutico Nacional”.

A partir de meados da década de 60 e na década de 70 o Clube ganha algum novo fulgor registando-se a construção em 1965 nas instalações do Cais do Gás de um tanque de remo para 8 remadores, procurando-se assim reanimar esta secção.

Na vela, o clube mantém uma forte aposta no ensino e tem um papel importante na introdução de novas classes como os 420, Vaurien e apesar de menos expressivas as classes Moth e Fin, que a par dos Snipes têm uma atividade bastante significativa.

Por estes anos, também importante foi a facilitação de condições pelo clube para que os seus sócios construíssem barcos. Muitas embarcações tipo “pequenos cruzeiros” foram construídos até à década de 1990 nas instalações do clube no Cais do Gaz.

Nos anos 80, numa nova tentativa de diversificação da atividade do clube, foi construído um novo ginásio e criada novamente a secção de halterofilismo, com a qual o clube obteve inúmeros títulos e funcionou durante mais de 20 anos.

Na secção de vela o facto mais significativo foi a introdução da classe Optimist que permite ao clube iniciar a formação de jovens mais novos, a partir dos 8 anos, uma vez que a escola de vela do clube estava vocacionada para praticantes a partir de uma faixa etária um pouco superior.

Também se regista uma intensificação da organização de regatas das classes de cruzeiro, dando resposta ao elevado crescimento de pequenos veleiros a que se assiste. Nesta área, a organização de regatas passa a ser uma constante e o clube promove novos tipos de provas, por exemplo, regatas em solitário e a dois tripulantes.

Nos anos 90 o clube inicia a atividade de canoagem, primeiro no âmbito da secção de remo e depois ganhando autonomia de modalidade com secção própria. Na vela mantém-se a formação e a competição de vela ligeira, com especial destaque para as classes 420 e Laser.

O final do séc. XX e a primeira década do séc. XXI trouxe novo período de crise, desportiva e diretiva, com forte impacto no decréscimo da atividade da qual lentamente o clube vem recuperando.

Neste período o clube vem centrando a sua ação no remo de lazer e na vela de cruzeiros.

O Clube, ao longo destes anos, apesar de períodos de maior turbulência, maiores dificuldades, maior ou menor expressão, desportiva e social, manteve como fio condutor e procurou cumprir o seu desígnio, honrando a memória dos sócios fundadores e de todos aqueles que ao longo do tempo serviram o clube, que tão bem definido foi nos estatutos de 1940:

“...animar a construção de yachts ou barcos de recreio, desenvolver o ensino da arte de navegar à vela e a remos, desenvolver o ensino da natação e o gosto pela diversões marítimas e promover e efectuar regatas e outros certames náuticos… Prestando a cooperação da sua iniciativa à utilíssima ideia da criação de escolas de vela, remo, natação e motor, artes não só uteis em mil eventualidades da existência mas também importantíssimos da educação física indispensáveis à mocidade”.

 

© Texto de Nuno Pereira (sócio do CNL)

Este texto faz parte dos painéis expositivos, com a história do clube, que podem ser visitados no armazém dos aprestos, no piso 0.

CLUBE NAVAL DE LISBOA

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A Exposição do Mundo Português foi um evento que se realizou em 1940, na zona de Belém, em Lisboa, durante o regime do Estado Novo com o propósito de comemorar simultaneamente as datas da Fundação do Estado Português (1140) e da Restauração da Independência (1640).

 

A exposição abriu as portas, em plena segunda guerra mundial, no dia 23 de Julho de 1940 e foi aproveitada pelo regime como um grande espaço de divulgação da história do país e também de propaganda do Estado Novo.

Foi visitado por cerca de 3 milhões de pessoas. A maioria foram portugueses, mas por lá passaram também muitos estrangeiros, sendo um grande número deles refugiados de guerra.

Tratou-se de uma mostra com vários espaços dedicados a temas como a história de Portugal, as colónias e a etnografia.

Para divulgar a ação do Estado Novo existia também um bairro comercial e industrial, um pavilhão das telecomunicações e outro do caminho-de-ferro.

A quase totalidade das construções e monumentos erigidos para a exposição foram demolidos após o seu encerramento em Dezembro de 1940. Nos dias de hoje sobrevivem o edifício do Museu de Arte Popular e a Praça do Império.

O Padrão dos Descobrimentos, em honra do Infante D. Henrique, também nasceu nessa época, mas como uma construção efémera. Desmontado em 1958 seria reconstruído, já em betão e pedra, dois anos depois, por altura da evocação dos 500 anos da morte do Infante.

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A estrutura da exposição foi assegurada por um grupo de arquitetos, quase todos de passado modernista, dirigido por Cottinelli Telmo (direção e planificação global; autor do Padrão dos Descobrimentos de parceria com Leopoldo de Almeida e do Pavilhão dos Portugueses no Mundo). Entre os 17 arquitetos que trabalharam no conjunto destaque-se ainda Cristino da Silva, autor do Pavilhão de Honra e de Lisboa, segundo José-Augusto França, "o melhor edifício da exposição – e talvez a melhor obra da maturidade de Cristino da Silva”.

Assinalem-se ainda as seguintes participações de: Porfírio Pardal Monteiro (Pavilhão dos Descobrimentos); Carlos Ramos (Pavilhão da Colonização); Veloso Reis (Pavilhão da Vida Popular); Jorge Segurado (núcleos das Aldeias Portuguesas); Raul Lino (Pavilhão do Brasil); Rodrigues Lima (3 pavilhões históricos: Pavilhão da Fundação, Pavilhão da Formação e Conquista e Pavilhão da Independência).

Entre pintores e escultores, ao todo participaram 43 pintores e 24 escultores, entre os quais os membros da equipa encarregue dos Pavilhões de Portugal nas Feiras Internacionais de Paris (1937), Nova Iorque e S. Francisco (1939): Fred Kradolfer, Bernardo Marques, Thomaz de Mello, Carlos Botelho, José Rocha, Emmerico Nunes, Paulo Ferreira, Almada Negreiros, Jorge Barradas, Lino António, Martins Barata, Manuel Lapa, Sarah Afonso, Estrela Faria, Clementina Carneiro de Moura, Mily Possoz.

Entre os escultores, podem destacar-se Canto da Maia (grupo D. Manuel, Gama e Cabral; baixo-relevo na fachada do Pavilhão de Honra e de Lisboa) e Leopoldo de Almeida (estátua da Soberania; estatuária do Padrão dos Descobrimentos), António da Costa, Barata Feyo, Ruy Gameiro, António Duarte, Martins Correia, João Fragoso e Raul Xavier.

EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS DE 1940

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